Natureza Humana

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Natureza Humana publica trabalhos especializados sobre questões relacionadas à fundamentação das teorias e das práticas psicoterápicas e, em particular, as psicanalíticas. As obras de Martin Heidegger e Donald W. Winnicott serão tomadas como pontos de referência centrais, mas não exclusivos.

A escolha desses dois autores repousa em razões sólidas. O primeiro é considerado, há tempo, um dos maiores filósofos do século, e o segundo vem recebendo crescente reconhecimento como o mais original psicanalista desde Freud. Além disso, ambos os autores lançaram pontes entre a filosofia e a psicoterapia. Heidegger dedicou – como se vê nos famosos Seminários de Zollikon – um esforço extraordinário à discussão da psicanálise freudiana e à tentativa de elaborar um projeto filosófico de patologia e terapia, sem perder de vista as descobertas científicas da psicanálise. Um dos nossos objetivos será resgatar esse projeto daseinsanalítico, ainda muito pouco conhecido, na tentativa de decidir, por meio de trabalhos ao mesmo tempo teóricos e clínicos, se ele tem o poder de constituir parte de uma nova tradição de pesquisa científica na psicoterapia e na medicina em geral, conforme foi antecipado e desejado por Heidegger.

Por outro lado, trata-se de acompanhar Winnicott na sua tentativa de iniciar, apoiado na filosofia, uma nova tradição de pesquisa e de clínica dentro da psicanálise. É à filosofia que Winnicott deve, como reconheceu em várias oportunidades, a coragem de proceder, passo a passo, na direção de uma melhor compreensão da natureza humana, livre de laços de lealdade pessoal com os fundadores da psicanálise tradicional. Resultou desse processo uma psicanálise renovada, centrada no problema de crescimento pessoal e não mais no de Édipo, e livre da herança metafísica das forças pulsionais que tanto pesa sobre a metapsicologia de Freud.

Outra questão importante, entre muitas outras, será examinar se a coragem de Winnicott em desafiar a ortodoxia na psicanálise tem algo a ver com a não menos iconoclasta tentativa de Heidegger de ultrapassar, isto é, desconstruir toda a metafísica ocidental, buscando uma forma de pensamento decididamente pós-metafísica. 
            Levando em conta o que há de melhor e mais corajoso na filosofia e na psicanálise de nossos dias, Natureza Humana pretende abrir um espaço de debate que poderá, por um lado, enriquecer a reflexão filosófica pelo contato com a experiência clínica comumente desconhecida ou, pelo menos, não devidamente apreciada antes do surgimento das psicoterapias modernas e, por outro, contribuir para uma compreensão das experiências clínicas e para uma articulação das teorias e do tratamento dos distúrbios psíquicos respaldada em resultados da crítica filosófica.

A escolha de Heidegger e Winnicott não significa, portanto, qualquer tentativa de estabelecer uma nova ortodoxia ou, menos ainda, uma nova seita. Pretende-se, isso sim, favorecer o surgimento de uma tradição de pesquisa que, baseada no estudo das obras dos melhores autores nas suas duas áreas de interesse, poderá constituir uma comunidade de pesquisadores que partem de problemas-guia claramente especificados e que, assumindo uma certa perspectiva teórica e metodológica geral, se aplicam a resolver problemas ainda abertos, quer filosóficos, quer científicos.

O projeto de publicação de Natureza Humana não surgiu do nada. Ele se impôs como uma necessidade no interior do Grupo de Pesquisa em Filosofia e Práticas Psicoterápicas do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC-SP. Este vem organizando, desde 1995, uma série de atividades agrupadas em torno de Heidegger e Winnicott, em colaboração com membros de reconhecidos grupos acadêmicos do Brasil e do exterior que trabalham sobre os mesmos temas, bem como com renomados profissionais da área de práticas psicoterápicas e psicanalíticas interessados no debate com a filosofia.